quarta-feira, 29 de abril de 2015

O jogo das contas de vidro


guardo de minha juventude ( essa compilação infinda e bem-vinda de fragmentos ) uma passagem no início de Rayuela na qual Cortázar afirma que não existe uma entidade que possa ser chamada confusão, mas antes pessoas confusas. meditei nesta como em outras passagens de minhas leituras insistentes e tantas vezes pouco claras, mas hoje penso que é um bom ponto de partida para a lucidez diária decidir que não há mais nenhuma possibilidade de achar que o mundo, a vida, ou seja lá o que for nesse sentido abrangente que inclui excluindo e vice versa, seja uma confusão. nada mais claro que tudo isso, nada melhor que deixar tudo nos mais limpos pratos. e que os confusos estão apenas perdendo tempo pois devem estar apostando em muitas verdades e opiniões, partidos e totalidades, nas quais um cego em meio ao tiroteio jamais apostaria. ninguém como mais claridade existencial que um cego em meio ao tiroteio, ninguém com mais possibilidade de saber onde exatamente se encontra, qual é seu sitz in lebem, para usar esta bela expressão pertencente a outro dos meus fragmentos, que aqui se liga ao antecedente na minha obra de leitor inquieto.

                                                           Igor Zanoni

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