guardo de minha juventude ( essa compilação infinda e
bem-vinda de fragmentos ) uma passagem no início de Rayuela na qual Cortázar
afirma que não existe uma entidade que possa ser chamada confusão, mas antes
pessoas confusas. meditei nesta como em outras passagens de minhas leituras
insistentes e tantas vezes pouco claras, mas hoje penso que é um bom ponto de
partida para a lucidez diária decidir que não há mais nenhuma possibilidade de
achar que o mundo, a vida, ou seja lá o que for nesse sentido abrangente que
inclui excluindo e vice versa, seja uma confusão. nada mais claro que tudo
isso, nada melhor que deixar tudo nos mais limpos pratos. e que os confusos
estão apenas perdendo tempo pois devem estar apostando em muitas verdades e
opiniões, partidos e totalidades, nas quais um cego em meio ao tiroteio jamais
apostaria. ninguém como mais claridade existencial que um cego em meio ao
tiroteio, ninguém com mais possibilidade de saber onde exatamente se encontra,
qual é seu sitz in lebem, para usar esta bela expressão pertencente a outro dos
meus fragmentos, que aqui se liga ao antecedente na minha obra de leitor
inquieto.
Igor Zanoni
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