quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Ligação


eu não me canso de repetir
o que você não pode mesmo compreender
seu coração é doce e é claro que me ama
mas há sempre cláusulas e momentos
sentimentos não são confetes
e o carnaval é sempre seu
eu não tenho facilidade para romper
minhas ligações
passamos períodos felizes
outros bem alucinados
não há cômputo possível
não há saldo nem balanço
quando entro em sua casa
nunca sei o que me espera
mas até o cachorro se acostumou
com minhas tristezas e com minhas brincadeiras


                                                                  Igor Zanoni

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O fim do céu e da terra




quando se atinge o ponto de saturação
as contradições já não podem se desenvolver
mais fermento na massa não melhora o bolo
mesmo que nós sejamos uma Brastemp
o forno torna-se inútil e perigoso
a nossa percepção e a natureza da realidade
remetem-se uma a outra como sabem os físicos
e os casais vivendo há muito sob o mesmo teto
nestes dias vi na internet uma bomba imensa
capaz de destruir o sistema solar
como alguém que não desistiu da vida
pergunto por quê tudo isso está sempre acontecendo


                                                                    Igor Zanoni

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A marca de Caim


não me faça tão estranho
também nasci com a marca de Caim
posso compreender o que vivo
mais rápido que você
já não é tão difícil
vejo como me olham
e mesmo à distância colocam-se logo
muito mais distantes
os que sentem próximos demais
do que é vivo e promissor
tendem a se afastar
do que parece doente
e comemoram entre si sua felicidade
com abraços que não me cabe retribuir
e beijos no rosto em uma festa difusa
não é exatamente destino
não é bem culpa
chame a isso um contraponto
este contraponto me cabe
mas é isso
não estou nada distante



                                                          Igor Zanoni



domingo, 27 de dezembro de 2015

Joinville


não chore porque ele não te compreende
não sofra pelos outros
não vá além do seu limite
hoje você disse tanto
tomara que ele tenha entendido
ele estava tão pra baixo
você fez o que podia
depois pegou a passagem do ônibus
esta semana tem tanto trabalho esperando
mas Joinville é uma bela cidade


                                                                     Igor Zanoni

sábado, 26 de dezembro de 2015

Moinho



todo  tempo que moemos
o grão no moinho diário
em relações tão nossas
tão pouco claras
mas também em relações outras
na cidade que de um ou de outro jeito
abriga nossa vida
ou a de muitos de nós
talvez com a ajuda de Deus
invisível percebida por cada um
da sua maneira se puder
não somos cada um a nossa imagem
antes promessas ambíguas
  tudo levado em conta
de vez em quando a fala de um amigo
repõe nossa fala nos trilhos
e parece que desta vez vamos
mas conta antes a doçura que envolve
intervalos pausas
quando assim descansamos
do dia incompreensível


                                                                          Igor Zanoni