terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A Linguagem dos Pássaros


este mínimo passarinho no muro do condomínio merece bem que se renove o mito do design divino. talvez um poeta persa nos dias áureos do Islã pudesse trazer para nossa precária sensibilidade a sua precisão, que informa seu voo, seu alimento, sua ossatura, sua reprodução, seu canto, sua maravilhosa simplicidade. para este pássaro convém a metáfora da criação, o desejo de cosmo que nos aflige diante da perversidade traduzida em insônia, medo, distância, dor. felizmente pude ver este pássaro, posso às vezes vê-lo, quando o dia está claro  e eu tenho tempo de sobra para repor no quintal meu desgaste cotidiano. uma ou outra vez contudo vi um pássaro assim caído no cimento, sem poder socorrê-lo, sem entender porque tal pássaro pode ser retirado da perfeição que o cerca, por quais circunstâncias, por quê minha previsão não chega para deter este terrível acontecimento, e que eu não poderia jamais ser o seu ou o meu demiurgo, o nosso guardador, e de que modo teríamos de recriar nosso Criador.



                                                                    Igor Zanoni  

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