este mínimo passarinho no muro do condomínio merece
bem que se renove o mito do design divino. talvez um poeta persa nos dias
áureos do Islã pudesse trazer para nossa precária sensibilidade a sua precisão,
que informa seu voo, seu alimento, sua ossatura, sua reprodução, seu canto, sua
maravilhosa simplicidade. para este pássaro convém a metáfora da criação, o
desejo de cosmo que nos aflige diante da perversidade traduzida em insônia,
medo, distância, dor. felizmente pude ver este pássaro, posso às vezes vê-lo,
quando o dia está claro e eu tenho tempo
de sobra para repor no quintal meu desgaste cotidiano. uma ou outra vez contudo
vi um pássaro assim caído no cimento, sem poder socorrê-lo, sem entender porque
tal pássaro pode ser retirado da perfeição que o cerca, por quais
circunstâncias, por quê minha previsão não chega para deter este terrível
acontecimento, e que eu não poderia jamais ser o seu ou o meu demiurgo, o nosso
guardador, e de que modo teríamos de recriar nosso Criador.
Igor Zanoni
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