a preocupação de meu pai com meu futuro e a cultura
humanista dos sessenta bem presente nas escolas públicas que frequentei em
Campinas (em nenhum momento eu estudei em algum estabelecimento particular de
ensino) fizeram cedo de mim um garoto “bem alfabetizado”, como me designou bem
mais tarde minha professora e amiga Liana Maria Aureliano. adolescente, li
muitos romances que meus próprios filhos não chegaram a ler na mesma idade,
porque foram substituídos pela Coleção Vagalume, por exemplo, dentro de uma avalanche
editorial de bons e novos livros para crianças e jovens. um dos que mais
estimei foi O Velho e o Mar, editado muitas vezes pela Civilização Brasileira, prova
de sua popularidade e do espírito dos jovens leitores de meu ginásio. é entretanto
um livro estranho para um garoto, ainda que fácil de ler e curto. não poderia
ser é claro uma parábola sobre vencer na vida, uma preocupação de meu pai entre
os muitos pais de meus amigos, mas não uma terrível preocupação nos tempos do
milagre. compreendi melhor o livro depois de ler Moby Dick, muito mais
pitoresco e aventuroso, mas igualmente metafísico e melancólico. o marlin de
Santiago e a pérfida baleia branca do capitão Ahab tinham um sentido
semelhante, e um terrível desígnio para os propósitos humanos. sentido e
desígnio que só poderiam ser tratados pela literatura, que também pode ser
absorvida por um jovem inquisitivo e um pouco à toa. depois li Camus e as
perguntas eram também próximas, mas havia a solidariedade e a esperança. já na
Escola Normal li A Idade da Razão, que detestei, acho que por ser um livro mal
escrito e com um realismo que para minha formação puritana me pareceu sórdido.
talvez Sartre tenha sido bom filósofo mas eu sempre preferi a poesia à
filosofia, inclusive porque poetas podem melhor lidar com o seu próprio tempo e
a sua própria idade.
Igor Zanoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário