quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Sobre frações e inteiros


imagine que tudo que é produzido no país ( ou no mundo ) em dado período, a renda ou produto, e que é composto por uma grande variedade de bens e serviços e uma também grande variedade de formas de remuneração, seja comparável a uma grande barra de chocolate. nós sabemos que a parte maior, e aliás crescente dessa barra, formada diretamente pelo esforço de trabalhadores de todo tipo e indiretamente pela apropriação de recursos do Estado, cabe a um número relativamente pequeno de habitantes do globo, que desejam essa riqueza por motivos próximos à paranoia. se houvesse um modo de dividir mais igualitariamente tal barra em frações que coubessem a todos independentemente de sua posição social, a barra poderia na verdade aumentar, pois haveria mais consumo e investimento assim como mais empregos. mas teríamos de observar se a produção social ainda manteria suas formas de coação e exploração sobre as pessoas comuns, se a natureza continuaria a ser destruída como acontece, especialmente nos últimos séculos, de forma exponencial, se o lixo que isto promove não envolve doenças, pesticidas, vírus de todo tipo, ruína dos povos tradicionais, material e cultural/existencial, se as guerras que assistimos no mundo e tão próximas de casa, envolvendo exércitos, indústria bélica, milícias, traficantes, pobres de muitos tipos, Estados com seus próprios desígnios tão pouco permeáveis à compreensão comum, continuariam os mesmos. poderíamos ir em frente, lembrar que o acelerado crescimento chinês, com todas as suas conquistas sociais, fez o País responsável por um terço da poluição mundial. poderíamos lembrar também as múltiplas formas de apartheid social, em especial sobre negros, mulheres, imigrantes, dentre outros segmentos populacionais. se fizéssemos uma lista maior de como a divisão de uma barra em frações iguais demonstra uma verdade aritmética que todo garoto sabe, isto é, que aritmeticamente trata-se do mesmo valor, teríamos de concluir que o problema não se resolve com números, até porque em uma barra de chocolate há muita gordura hidrogenada, açúcar, corante, entre outros “ingredientes” e nenhum ou pouquíssimo chocolate genuíno. 


                                                                       Igor Zanoni

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