em finais dos cinquenta eu era bem pequeno mas me
chegou em Cáceres exemplares da Seleções, acho que através da Coletoria
Federal, que vendia selos e também livros (também acho que) usados. na seção de
livros resumidos, a melhor, li a história de um garoto que criou em casa um
guaxinim, e a ideia de ter um também ficou na minha cabeça como a do
porquinho-da-índia na de Manuel Bandeira. assim, aquele guaxinim foi minha
primeira namorada e atormentou a mim e, por tabela, a meu pai pelos meus
pedidos, impossíveis de atender, de ganhar um para morar conosco. o bichinho,
foi o que ele disse, não podia ser domesticado, mas ( todos sabemos que sempre
tem um mas) em frente morava um soldado, que servia com meu pai, cuja mulher
possuía um quati preso com uma corrente em uma árvore seca ao lado da cozinha
(em Cáceres, por causa do calor, a casa só era fechada nos quartos, e a cozinha
e a copa adentravam o quintal). ela brincava com o quati e comigo, o marido
nunca estava em casa, e o bicho era calmo, nunca mordia. então quis também um
quati mas pouco depois mamãe contou que a moça ateara o querosene do lampião no
corpo e riscara um fósforo por causa de uma traição do marido. esse tipo de
notícia do mundo sempre vinha de mamãe, e as mães são ótimas por fazerem coisas
assim, mas nunca mais vi ninguém daquela casa, e não soube o desfecho de tudo
(com quem ficara o quati, se o marido foi preso, se ela ficou muito deformada e
outras boas perguntas). em Curitiba, tanto tempo depois, no campus do Jardim
Botânico onde trabalho vejo sempre esquilos e gambás, entre outros pequenos
roedores, com certeza primos do meu antigo serelepe. essa historia toda se
transforma em uma, com a conclusão de que as crianças tem sua própria visão do
que ocorre, não muito dramatizada, aliás bastante aquisitiva, e de que as
crianças são sempre o máximo, depois as pessoas todas ficam muito sem graça, poucas
continuam interessantes.
Igor Zanoni
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