apesar de meu pai ser músico formado pela Escola
Nacional de Música, havia poucos discos disponíveis para mim na bela pick-up
Phillips da sala. dois elepês da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio, com
marchas, o que se explica em parte porque meu pai foi criado desde os onze anos
no Corpo de Bombeiros, ali começando a se interessar por música, mais um
long-play com a Abertura da Quinta Sinfonia de um lado e o Holandês Voador de
outro. lembro também de um 78 rpm com o Träumerei de Schumann, de alguns discos
semelhantes com sambas-canções de Agostinho dos Santos, poéticas e melodiosas,
de Wilma Bentivegna, versões de standards americanos e de um álbum de músicas
evangélicas. neste eu adorava um baixo profundo que cantava: “esperei com
paciência no Senhor, e Ele se inclinou para mim e ouviu meu clamoooorrr...”.
este hino é o famoso Salmo 40, ainda entoado nas igrejas evangélicas de hoje,
com uma melodia um pouco diferente e em meio a “línguas”. mas o melhor vinha
não de meu pai mas de mamãe, com a qual assistia na pequena Silverstone preto e
branca o programa, tarde da noite, de Maysa. mais tarde vieram Caetano, Chico,
Milton e outros, mesmo Roberto era interessante perto dos sambas-canções
monótonos e anacrônicos. foi uma revolução jacobina, quem viveu isso sabe. mas
só no ginásio, já mocinho, estudando inglês com música, fui às Lojas Americanas
e comprei um compacto duplo com California Dreamin´. papai detestou mas não
ousou contestar. depois passei a decorar canções dos Beatles como a lindíssima
Hey Jude, minha preferida. assim eu fiz minha anárquica formação musical e me
tornei um melomano por minha conta e risco, sem nenhuma formação sistemática .
Igor
Zanoni
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