terça-feira, 10 de maio de 2016

Melomania


apesar de meu pai ser músico formado pela Escola Nacional de Música, havia poucos discos disponíveis para mim na bela pick-up Phillips da sala. dois elepês da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio, com marchas, o que se explica em parte porque meu pai foi criado desde os onze anos no Corpo de Bombeiros, ali começando a se interessar por música, mais um long-play com a Abertura da Quinta Sinfonia de um lado e o Holandês Voador de outro. lembro também de um 78 rpm com o Träumerei de Schumann, de alguns discos semelhantes com sambas-canções de Agostinho dos Santos, poéticas e melodiosas, de Wilma Bentivegna, versões de standards americanos e de um álbum de músicas evangélicas. neste eu adorava um baixo profundo que cantava: “esperei com paciência no Senhor, e Ele se inclinou para mim e ouviu meu clamoooorrr...”. este hino é o famoso Salmo 40, ainda entoado nas igrejas evangélicas de hoje, com uma melodia um pouco diferente e em meio a “línguas”. mas o melhor vinha não de meu pai mas de mamãe, com a qual assistia na pequena Silverstone preto e branca o programa, tarde da noite, de Maysa. mais tarde vieram Caetano, Chico, Milton e outros, mesmo Roberto era interessante perto dos sambas-canções monótonos e anacrônicos. foi uma revolução jacobina, quem viveu isso sabe. mas só no ginásio, já mocinho, estudando inglês com música, fui às Lojas Americanas e comprei um compacto duplo com California Dreamin´. papai detestou mas não ousou contestar. depois passei a decorar canções dos Beatles como a lindíssima Hey Jude, minha preferida. assim eu fiz minha anárquica formação musical e me tornei um melomano por minha conta e risco, sem nenhuma formação sistemática .


                                                                      Igor Zanoni

Nenhum comentário:

Postar um comentário