quinta-feira, 7 de abril de 2011



quando vejo um pássaro no muro
ele existe para mim enquanto está ali
depois fica a memória coletiva dos pássaros
um tanto indistintos
com suas vidas desconhecidas
e itinerários idem
apesar disso amo os pássaros
aprecio mais um sabiá
que um modelo novo de automóvel
porque nele está o frágil e imprevisível
evolver de tudo que é vivo
talvez os Budas nos vejam assim
com carinho mas com certa indiferença
talvez não nos individualizem
somos seres nos bardos
passando nas tragédias e dramas
das nossas vidas para eles banais
eles conhecem o mundo
nós temos sempre de prestar atenção
à arca do peito
nosso momento é frágil
o pó é entretanto para os Budas
uma forma que assume a nossa ignorância

                                            Igor Zanoni

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