quinta-feira, 21 de abril de 2011

Rua

Rua

No início dos sessenta nossa rua no Castelo me parecia imensa, quase não passavam carros, e podíamos brincar à vontade. É verdade que às vezes vinha um carro quebrar os tijolos que usavamos no bets, xingavamos bastante mas depois a vida coa continuava. Uma vez um carro passou sobre uma pequinês que eu tinha, ferindo-a e tirando seus olhos que ficaram meio pendurados sobre o focinho. Meu pai apanhou o cachorrinho no colo e levou imediatamente para o veterinário. Quando voltou o pequinês tinha sido operado e estava pronto para outra. Se não fosse meu pai! Eu podia brincar com uma dúzia de crianças como Gersinho, Gilmar, Fábio, Flávio, Orest, Natália, Regina, Luciana, Paulo e Jorge Matthes, e outros cujo nome esqueço. Havia as “crianças de rua”, talvez os mais pobres ou fora do círculo de minha mãe, com os quais eu não podia brincar, ou só esporádicamente, embora eu teimasse e os vicitasse em casa, como Ito, Dalton, Djalma. Eles jogavam futebol, esporte que nunca joquei direito, o que me deixou sempre fora de qualquer timinho de bairro. Meus irmãos brincavam também, Alex, felippe, Ivone, os seguintes na carreirinha de filhos da casa. Mônica e Tintim vieram depois. Nesta época passei por eventos políticos como a campanha eleitoral de Jânio versus Lott, quando lutei fervorosamente por Jânio distribuindo vassourinhas em forma de broche, com as quais Jânio iria varrer a corrupção do País. Depois veio a redentora, que percebi mais pelo ar compenetrado que papai passou a usar, pois ele era tenente do Exército, mas nunca percebi mais do que a atmosfera em torno daquele pai. Só mis tarde, no ginásio, comecei a saber um pouco de política e instintivamente busquei a esquerda, que achava mais destemida e corajosa. Lembro de amigos ainda mais antigos, antes de mudarmos para o castelo, no Bonfim ou em cáceres. Lembro de seus rostos e seus nomes, dos nossos brinquedos e hábitos, dos meus pais e do nosso dia a dia. Penso que alguns como eu são caramujos que levam tudo ás costa, sua casa e seu passado. Por isso não sou muito presente ás vezes, vivo para cá e para lá na minha extensa vida, em algum ponto, um pouco em todos.

                                                      Igor Zanoni 

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