terça-feira, 23 de agosto de 2011

Caixa 2




Caixa 2

Acho que é um pouco em toda parte assim, mas o Brasil é um grande caixa 2. Estas semanas estamos vendo a presidente Dilma às voltas com sua base aliada nos ministérios, tentando sanear os furos do orçamento num momento que pede prudência e jejum diante da crise econômica e da rede que nos prende ao capital financeiro. Mas todo o Congresso é de baixa qualidade. Desde os anos noventa temos entrado em um ambiente público corrompido, ao mesmo tempo conservador, exigindo um enorme esforço para a articulação de demandas sociais legítimas, como aperfeiçoar os serviços públicos essenciais incluindo os mecanismos de transferência de renda como o Bolsa-família. Estes são vistos como assistencialistas. Há pouco o candidato derrotado nas últimas eleições José Serra disse que estes mecanismos não servem, que o que importa é o emprego. Mas nós não somos os Estados Unidos, que tem uma cultura de vencer por si próprio em um país rico, mas cheio de pobreza e violência. Aquele  país faz com sua população um pouco do que faz pelo mundo afora. No Brasil há um mercado de trabalho fraturado, produzir empregos para todos é uma utopia.  Pelo menos um bom embrião de políticas sociais, inclusive, digamos, assistencialistas, é muito necessário. Mas as pessoas acham, que o trabalho, o capital, o mercado, são mais dignos ou éticos que a esfera pública? Ambas estão ligadas, em todos os níveis. A sociedade é enformada por dentro do Estado, cheios ambos de vícios notórios como a corrupção e a sonegação, de dinheiro, de informações, de poder. Qualquer órgão público é minado por mil arapucas para se extrair dinheiro extra, qualquer empresa privada age com ilicitude. Qualquer alternativa para o futuro passa por essa falta de confiança que as instituições transmitem. Não se trata de viés ideológico, o dinheiro contamina o público e o privado, estamos em um enorme caixa 2.

                                                  Igor Zanoni

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