A “Nova Classe Média”
A propaganda que o governo faz, à falta de melhores notícias, sobre a consolidação de uma “nova classe média” no Brasil causa espanto a uma pessoa um pouco informada. Este termo foi cunhado pelo sociólogo norte-americano Charles Wright Mills para dar conta do crescimento acelerado de uma ampla camada na América do Norte de assalariados de colarinho branco, diversificada e diplomada, bem remunerada, que se constituiu no esteio do crescimento de duráveis e do surgimento de um mercado de massas, esteio ideológico do país contra os apelos igualitaristas do socialismo. No Brasil, porém, esse termo vem ilustrando a difusão de uma massa de empregos entre dois e três salários mínimos, salário mínimo este bastante deteriorado ao longo das décadas, no contexto de um crescimento de profissões mal qualificadas, em grande medida ligadas a setores como comunicações, diga-se call centers. A base do mercado de trabalho no período entre os anos setenta e oitenta era exatamente dois a tres mínimos, com um grau paralelo de informalidade bastante reduzido diante do atual, e pequeno desemprego aberto. È verdade que o emprego vem crescendo e o produto subindo a taxas mais elevadas que nos anos oitenta e noventa, mas isto vem ocorrendo no contexto de uma reprimarização das exportações, enorme endividamento das famílias a juros campões do mundo. Vai assim se conformando um mercado desideologizado de consumo e emprego, sem qualquer laço de solidariedade cultural entre as camadas da população, com trabalhadores sem expectativa de progressão na carreira e na vida. Mesmo o diploma universitário significa pouco neste contexto, pois grande parte das faculdades, em geral privadas, criam cursos para habilitação em grande parte nessas mesmas ocupações mal remuneradas. Cursos para professores mal remunerados ou assistentes de administração em cadeias de lojas igualmente precarizados. Além disso, em termos culturais o resultado é péssimo, pois se generalizam carros ponto 1 com etanol ou gasolina caros, para viajar em estradas violentas ,ou televisores que servem para as grandes redes manter seu histórico domínio sobre informações e como entende-las. O JN é típico de um jornalismo que tenta mostrar aos espectadores como driblar as dificuldades e manter o otimismo nos rudes tempos que vivemos. Tudo isso não é fatalidade econômica. Os jovens que migram para o Canadá, Nova Zelândia ou Austrália não encontram nenhuma dessas pressões, em países muito menos elitizados e heterogêneos que o nosso e que em termos econômicos podem equivaler ao Brasil, com muito menor protagonismo político. Ao mesmo tempo, cresce o número de milionários no País, e a antiga classe média mingua e tem dentro de si pessoas com muitas dificuldades, remediadas e até as que estão bem. O governo tem pouco o que mostrar, uma farsa sem opções políticas viáveis.
Igor Zanoni
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