segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Ter e ser


Ter e ser


Há pelo menos duas décadas, um importante elemento do dinamismo econômico do Ocidente , incluindo o Brasil, tem sido os gastos com bens de consumo, alavancado pelo crédito farto atingindo faixas da população antes com pouco acesso a ele. No País, temos visto o crédito consignado atingir funcionários públicos com estabilidade no emprego e aposentados e pensionistas do INSS. O crédito é concedido em prazos longos, que diluem os altos juros cobrados. Como os salários e o emprego não crescem na mesma proporção, cria-se uma bolha especulativa, como as que vêm varrendo a economia americana e a europeia. O Brasil tem se saído melhor graças ao dinamismo do próprio crédito e às vultosas exportações de commodities. Mas os salários tem se mantido baixos, e o emprego cresce menos com a elevação dos juros e o corte dos gastos públicos pelo temor a uma aceleração da inflação. Nos últimos meses o governo anunciou um monitoramento maior dos créditos, supostamente para evitar erosão dos orçamentos das classes médias baixas já muito endividadas. Mas o disciplinamento das  novas dívidas não se deu. Os brasileiros continuam se endividando, mas agora a juros maiores. A emenda foi pior que o soneto, como dizia meu avô. Numa sociedade heterogênea onde o grosso da população tem enorme consumo reprimido pelos bens que o mercado valoriza e apontam como emblemas de prestígio, automóveis, motocicletas e outros bens, o resultado não poderia ser diferente. Como disse Marx, no capitalismo as relações entre as pessoas tomam a aparência de relações entre coisas. Ter e ser se confundem. A professora Anna Luísa Carvalho aponta que supostamente as coisas estão aí para todos, e que possuir ou aparentar ter menos é se tornar mesmo mais desvalorizado e menor. A melhor saída, na sociedade sem muita ideologia que temos hoje é baixar os juros, elevar os salários, estimular os investimentos e o emprego e sair do temor da crise com uma agenda positiva.  

                                                           Igor Zanoni

Um comentário:

  1. ...eu penso que melhor para a sociedade é aprender a Ser... só dessa forma o antigo formato consumista poderá ser desbancado, o processo é lento, mas a quanto tempo estamos nesse mesmo modelo? Antes lento e continuado do que inexistente.
    As pessoas se agarram a igrejas, mas continuam insatisfeitas, emocionalmente inseguras, graças a essa idéia de que ter é Ser, e isso só muda com uma profunda mudança de valores humanos e espirituais.
    A possibilidade de um provável paraíso ou inferno não ameniza nossas ansiedades, apenas a co-participação de cada um no processo da vida trás equilíbrio.
    Saindo do estado de ‘filho’ aonde sempre alguém chega para prover nossas necessidades, chegamos ao equilíbrio do Ser, precisamos Ser e nos responsabilizarmos pelos acontecimentos a nossa volta, caso contrário estaremos sempre nesse barco aonde quem conduz não tem rosto, mas apenas pretensos modelos que cada ‘cidadão criança’ veste e se acomoda ainda que numa discutição acalorada sobre como as coisas andam mal.
    Sempre queimei meus navios para me ver obrigada a nadar.
    Se não tenho pão como mandioca, se não tenho mandioca, como banana... e assim sem duvida a natureza faz sua parte quando faço a minha... a questão é... quem esta disposto a andar a pé?

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