sábado, 6 de agosto de 2011

O Morro dos Ventos Uivantes

O Morro dos Ventos Uivantes


Li muito novo o livro e não retive nada, mas depois vi o filme e me impressionei com o clima intenso, em meio à natureza agreste dos personagens como Heatcliff, ou muito convencionais como Linton, e à paisagem rude do norte da Inglaterra. Novamente em cena pela série Crepúsculo, que não vi nem li muito pelo contrário, reli o livro de Emily Brontë, morta aos trinta anos, escrevendo-o nos primeiros decênios do século XIX. A idéia é que o amor supera todos os obstáculos que não uniram em vida Catherine e Heatcliff, mas sobrevive à morte. Depois de separados pelos interesses pessoais e estamentais da família de Cathjy, que morre prematuramente, o amante decide vingar-se em todos à sua volta, mas quando poderia levar adiante sua vingança, ela arrefece e ele deseja também a morte e ser sepultado ao lado de Catherine. É notável a passagem em que ele abre o caixão desta, e dá ordens ao jardineiro para ser enterrado junto dela, sem qualquer separação entre os dois caixões. Heatcliff se deixa morrer, não se alimentando e desejando a eterna união, e após sua morte são vistos os dois espectros por moradores do campo em torno às propriedades de ambos, abraçados e felizes para sempre. O amor nunca morre, mas não é só isso. o livro é todo construído por situações familiares que seriam banais não fosse a violência de Heatcliff e de seu afeto e a forma como tenta manejar seu destino. Mas outro destino o aguarda, o esperado anteriormente, a união com Cathy. Não há grande densidade psicológica ou situações que não possam se passar nas propriedades rurais médias do local, o que arranca o romance de sua medianidade são os encontros entre os personagens, plásticos, brutais, singularizando a falta de limite desse afeto. Estamos diante de um texto fundador do romantismo, bem distante dos romances mais regularmente construídos de Jane Austen. Aqui tudo é tumulto, premeditação, destinos curtidos pela agressividade da separação social, que a morte e a constância dos afetos remedia. De algum modo é assim mesmo, muitos afetos são eternos, talvez todos sejam eternos pelo menos enquanto sejam vitais ainda para nós. Mesmo quando não percebemos bem isto.

                                               Igor Zanoni
        

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