domingo, 28 de agosto de 2011

Paulo




Paulo

Paulo sempre aparece no barbeiro, na padaria da Adílio Ramos com a Alceu Chichorro, parece que vai andando pelo bairro quando está ocioso e entra para conversar sobre o que está rolando. Está sempre bem informado sobre o jogo que passa na teve, ou com as estradas do Paraná neste tempo de chuva. Tem uma Kombi velha e faz carretos. Sua voz é sonora, alta, mas não diz nada impróprio. Parece que quer interessar as pessoas no que se passa em volta com um conhecimento em primeira mão e bem ponderado. Mas sempre fala sobre como se juntasse manchetes de um jornal popular. Muitos gostam, conversam, ele fica um pouco, depois vai embora. Sua mulher já o expulsou de casa algumas vezes por causa de bebedeira. Tem o rosto envelhecido, bastante marcado, às vezes pede para encostar a Kombi ao lado de uma lanchonete ou no pátio de uma pizzaria e dorme dentro do carro. Os evangélicos não gostam de alcoólatras e não o recebem bem, de modo que suas idas e vindas não são bem aceitas por todos. Mas a maioria o aceita bem. Sabe pelas conversas que mantém da vida de todos, mas é discreto. Pega agora pouco trabalho, bebe muito. É um dos tipos populares do bairro. Mas andando daqui para ali  mantém todos informados sobre muitas novidades, coisa de que os novidadeiros muito gostam. Assim fez seu espaço, como figura imprescindível em quase todo canto. Às vezes se lasca. Uma vez entrou em um restaurante onde eu estava e pediu algo, colocando-me como sua testemunha: “O professor ali me conhece, sabe que eu não sou disso...”, mas nunca falei diretamente com ele, estranhei esse apelo meio desesperado. Não disse nada, fiquei quieto. Ninguém o maltrata, o povo sabe que Deus protege os doidos e os bêbados. E ele é meio doido e bêbado inteiro. Mas tem uma estratégia na vida e a usa bem.


                                                         Igor Zanoni

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