no edifício Castelo Branco, tão belo por fora quanto
asfixiante por dentro, antes do Museu Oscar Niemeyer se instalavam diversas
secretarias do governo estadual, junto com uma boa quantidade de diversos outros ditos órgãos
públicos, formando um corpo que, às vezes, depois de um longo corredor,
terminava numa parede, num arquivo morto, ou em uma improvisada cozinha onde
funcionários conversavam fazendo seu lanche, um famoso e disputado sanduíche de
pão francês, um dia com uma fatia de queijo, outro com uma de mortadela. diante
do que meu erudito amigo Demian Castro chama em sua bela tese de doutorado “a
crise das finanças federativas”, pessoas do porte intelectual e compromisso com
a “realidade” ( isto é, com a práxis da regeneração da cultura dentro de uma ética pública) como Mainha,
Nádia, Rosa, Clóvis, Paulinho, Maria Luiza, Mariano, Darcy e outros ( não
muitos, porque se trata de tarefa exigente e delicada) foram artistas do
impossível e criaram ferramentas para a ação pública como sistemas de
indicadores sociais que embasaram, por exemplo, a criação no Paraná do Sistema
Único de Saúde, e detectaram uma hierarquizada e clara visão espacial de
inúmeras instâncias nas quais vive e morre a população. mas predominaram os
tempos de tédio e inatividade para a maioria, os baixos salários, e outros
aspectos dyonelescos com suas sequelas físicas e morais. porém ( sempre há um
porém!), em salas enormes e silenciosas se encontravam aqui e ali funcionários
que, sem entender exatamente porquês financeiros e políticos, se dedicavam a
fazer o que aparecesse com grato espírito comunitário, boas opiniões e alegre
companheirismo. quando não aparecia nada, estudavam e liam por sua própria
conta, e com muito tempo disponível se especializaram no que supunham, com
razão inclusive, o melhor e mais necessário para o mundo. assim pude conhecer
intelectuais autodidatas que embasbacariam qualquer um ao falar de Shakespeare,
Mozart, física moderna, filósofos como Nietzsche e Hegel, cinema europeu, o
desenvolvimento da arquitetura e do urbanismo, enfim, tudo o que se precisava
para colocar em outros trilhos suas vidas e as vidas que se passavam fora daquele estranho edifício, parece que com
o maior vão livre da América Latina. Mas nenhum possuiu o calibre de Aluísio
Caropito Raposo, sugerindo a conclusão de que o estado se vê obrigado por
diversas razões a poupar “recursos” e aumentar a “eficiência” de sua
administração, mas não tem tantas vezes muito claro os recursos que possui ou
como poderiam transformar a vida de cada um de nós.
Igor Zanoni
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