quinta-feira, 24 de julho de 2014

Aluísio Caropito Raposo

no edifício Castelo Branco, tão belo por fora quanto asfixiante por dentro, antes do Museu Oscar Niemeyer se instalavam diversas secretarias do governo estadual, junto com uma boa  quantidade de diversos outros ditos órgãos públicos, formando um corpo que, às vezes, depois de um longo corredor, terminava numa parede, num arquivo morto, ou em uma improvisada cozinha onde funcionários conversavam fazendo seu lanche, um famoso e disputado sanduíche de pão francês, um dia com uma fatia de queijo, outro com uma de mortadela. diante do que meu erudito amigo Demian Castro chama em sua bela tese de doutorado “a crise das finanças federativas”, pessoas do porte intelectual e compromisso com a “realidade” ( isto é, com a práxis da regeneração da cultura  dentro de uma ética pública) como Mainha, Nádia, Rosa, Clóvis, Paulinho, Maria Luiza, Mariano, Darcy e outros ( não muitos, porque se trata de tarefa exigente e delicada) foram artistas do impossível e criaram ferramentas para a ação pública como sistemas de indicadores sociais que embasaram, por exemplo, a criação no Paraná do Sistema Único de Saúde, e detectaram uma hierarquizada e clara visão espacial de inúmeras instâncias nas quais vive e morre a população. mas predominaram os tempos de tédio e inatividade para a maioria, os baixos salários, e outros aspectos dyonelescos com suas sequelas físicas e morais. porém ( sempre há um porém!), em salas enormes e silenciosas se encontravam aqui e ali funcionários que, sem entender exatamente porquês financeiros e políticos, se dedicavam a fazer o que aparecesse com grato espírito comunitário, boas opiniões e alegre companheirismo. quando não aparecia nada, estudavam e liam por sua própria conta, e com muito tempo disponível se especializaram no que supunham, com razão inclusive, o melhor e mais necessário para o mundo. assim pude conhecer intelectuais autodidatas que embasbacariam qualquer um ao falar de Shakespeare, Mozart, física moderna, filósofos como Nietzsche e Hegel, cinema europeu, o desenvolvimento da arquitetura e do urbanismo, enfim, tudo o que se precisava para colocar em outros trilhos suas vidas e as vidas que se passavam  fora daquele estranho edifício, parece que com o maior vão livre da América Latina. Mas nenhum possuiu o calibre de Aluísio Caropito Raposo, sugerindo a conclusão de que o estado se vê obrigado por diversas razões a poupar “recursos” e aumentar a “eficiência” de sua administração, mas não tem tantas vezes muito claro os recursos que possui ou como poderiam transformar a vida de cada um de nós.


                                                              Igor Zanoni

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