sexta-feira, 11 de julho de 2014

Tempo


Clementino conhece todos. ontem perguntou se eu sabia que um amigo, bem idoso, havia ficado doente e como estava indo. esqueci o nome dele, mas percebi que eu não o via na rua de trás há muito tempo. o seu José, avô do Mateus, passou bem naquele instante e deu um olá com a mão, sorrindo. Clementino disse que brincava muito com seu Zé, mas agora não, respeitava o momento que estava vivendo. ele próprio tem setenta e muitos, mas faz caminhadas, cuida da comida, cerveja só uma latinha nos domingos. viaja e tem sempre à mão livros que ensinam alguma coisa, como um massudo de Paulo Coelho, uma coleção de aforismos que ele leu em uma sentada. o seu Bruno ainda vejo, meio curvado, com seu cigarro, sempre na calçada, cortando grama ou fazendo outra coisa. todos gostavam deles lagarteando e se provocando, ou falando outras coisas que não eram e não são da minha conta. talvez fossem uma curiosidade da vizinhança, supostamente engraçados, dando à rua uma aparência de cordialidade e simplicidade que ela perdeu. mas se olharmos os sinais dos tempos, estes homens seguem suas vidas nem como querem nem como parecíamos esperar, uma roda de amigos aparentemente inofensivos conversando entre si para nos dar a ilusão de segurança que a vida não tem, é claro.

                                                                      Igor Zanoni

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