sexta-feira, 18 de julho de 2014

Sentinela

Sentinela

seu pai fez um cubículo de madeira, destacado da lojinha de móveis populares, para que ela venda salames, vinhos coloniais, suco de uva, queijo. ela se tornou provavelmente uma sentinela frente a um pequeno arsenal de guloseimas. tem quinze anos e fez o primeiro grau, não quer estudar mais. a mãe me disse que ela é teimosa, que já insistiu. o irmão mais velho saiu apessoado e forte, e entrou no Guatupê. as irmãs estão não sei onde, mas uma trabalha na malharia em frente ao meu condomínio, talvez por ter um rosto sereno. ela é bem mais miúda, operou do coração quando nasceu. às vezes compro um suco de uva, o que me irrita um pouco, porque ela não gosta dos rótulos e raspa com a unha. tenta me vender uns salaminhos, três por dez. e ri. o sol pega em cheio a vendinha, ela não tem o que fazer, ninguém para ali. eu nunca entenderei o que se passa, mas ela deve estar mais do que dando conta do seu pedaço, e dando conta do mundo.


                                         Igor Zanoni
                                                                  

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