O nome que dá título a esta breve memória é o de uma
pessoa tão significativa na minha vida que posso dividir com ele meus acertos
tardios e jamais meus deslizes e bobagens. Conheci Tiago como meu professor de
Microeconomia no segundo ano da graduação em economia no antigo Departamento de
Economia e Planejamento Econômico da Unicamp. Seu curso baseou-se em texto
escrito por ele mesmo, longamente acompanhado por reflexões metodológicas e de
valor. Uma de suas conclusões li mais tarde em pensadores como Feyerabend e
Furtado, a fragilidade do conceito de ciência social, ou de ciência mais
amplamente, vista como algo nascido independentemente de escolhas prévias e
como produtora de “realidade”. Num
momento em que me propunha estudar por vocação e opção política, Tiago ensinou-me
a duvidar dos que se propunham ser “intelectuais” e via o futuro de forma dramática,
jamais redutível a previsões científicas ou a correções de rota. Não se dizia
pessimista, antes se considerava otimista, mas havia compreendido o suficiente
do mundo para pensar que o homem comum teria muita chance nele. Detestava
particularmente a epígrafe dos Princípios de Economia de Marshall, “a natureza
não realiza saltos”. Sua tese de doutorado, defendida após hesitações que eu não
compreendia, era uma arguta crítica do pensamento de Fernand Braudel e de seu conceito
de capitalismo, amplamente baseada em profundo conhecimento dos textos de Marx
e de historiadores instigantes como Hobsbawm, do qual se conhecem em geral as
suas “Eras...” e entrevistas e nada mais. Apanhou na defesa por “bater em
monumento”, e depois me perguntou se eu havia aprendido que não se deve bater
em monumentos. Tiago odiava o corporativismo e o comodismo. Culto e refinado,
era um professor “esquisitão”, que fez coisas maravilhosas com seu espírito de
amizade e associação, como trabalhar anos a fio e empenhar seu futuro financeiro
criando uma máquina de cortar granito para um grupo de indústrias no Espírito
Santo, uma vez que além de economista era excelente engenheiro elétrico. Digo
era porque hoje se recolheu a uma bem-aventurada distância, com sua família de
origem, suas filhas e amigos do Rio, onde nasceu. Sempre adorou amigos. Passava
uma noite tomando vinho e enrolando cigarros de palha enquanto conversava.
Certa vez, visitando a Festa de São Francisco no Largo da Ordem em Curitiba,
tentou defender delicadamente algumas crianças de agressão policial. É claro
que apanhou e foi preso, mas aproveitou a ocasião para conhecer muitos outros
em igual condição, ignorados, tomando seus nomes, telefones e nomes de
familiares. Voltando para São Paulo, deixou-me a tarefa de telefonar a todos
estes.
Igor Zanoni
Procuro notícias sobre Tiago. Poderia me ajudar ? Adriano Biava - biafeusp@usp.br
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