o último domingo de junho foi estranho. o edevaldo,
marido de minha irmã caçula mônica veio passar uns dias comigo, e é muito raro
alguém da família me visitar. fomos ao guaíra ver a orquestra sinfônica, que
apresentou o pássaro de fogo de stravinsky e uma peça de prokofief muito bonita que não
conhecia. depois passeamos pelo centro, mas o certo é que passeamos o dia todo,
na feirinha, no museu e outros lugares, mas eram os idos da copa e havia jogo
na cidade. o ar estava amarelado e quente, fomos atendidos nos bares como
turistas, com cardápios caros em várias línguas e muitos amavelmente se
ofereceram para tirar fotografias de nós mesmos para que não esquecêssemos aquele
domingo, como se para isso fosse necessário fotos. os moradores de rua foram retirados
do centro, alguns negros altos parecendo nigerianos abriam rápidos uma maleta
que virava uma mesinha com bijuterias muito douradas, talvez chinesas, e havia
polícias para todo lado. muitas corbeilles rodeavam a catedral, e soube que o
bispo dom moacyr, que havia há muito realizado minha crisma, falecera e estava
sendo velado há três dias, o corpo em frente à nave, bem como que seria
sepultado em uma cripta na qual havia bispos e dignitários falecidos há muito. eu
estava me afogando em novidades incompreensíveis enquanto o edevaldo tirava fotos de tudo na
cidade, não distinguindo entre o que para mim era essencial, supérfluo ou habitual.
mas nada era habitual naquele domingo para ninguém e a cidade parecia encenar
uma penosa sexta-feira da paixão. era o último domingo do semestre, após muitas
dificuldades a stéfanie havia defendido sua monografia e concluído sua graduação,
mas muito mais do que isso estava voltando para itaiópolis.
Igor
Zanoni
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