um verso budista diz que assim como uma semente de
gergelim é repleta de óleo, assim a vida é repleta de sofrimento. mas o
sofrimento é uma percepção de sua própria vida à qual uma pessoa pode sempre
dar conteúdo novo e ativo, re- significando e redirecionando-a. em um homem
ímpar nesse sentido como francisco, a crise existencial que nele se gestava,
até se abrir em longa enfermidade e depois em uma cura, implicou muitas
perguntas, tentativas práticas de seu encaminhamento até uma serenidade obtida
apenas próxima da sua morte. a igreja buscou apropriar-se desse itinerário
criando a lenda de que francisco recebeu os estigmas da cruz, mas francisco não
foi jesus nem duplicou a vida deste como modelo, o que seria impossível pois
tinha sua própria vida, seu próprio sitz in lebem. tinha sua própria história
permeada de suas perguntas e da busca de sua liberdade, e entendia jesus, como
todos nós, de sua própria e particular maneira. apenas francisco pôde sofrer de
sua própria, inconclusa e aberta maneira, de modo criativo e sem resignação. a
vida não é repleta sem mais assim desse sofrimento, tanto que se reconheceu
muito tarde a dimensão da figura ímpar de francisco diante de seu tempo, que a
igreja logo percebeu e buscou neutralizar.
Igor Zanoni
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