terça-feira, 28 de outubro de 2014

Intimidade


em nossas relações há muito mais de mistério do que julgamos. quem de nós pode pretender que conhece a fundo o seu próximo, ainda que, durante anos, tenhamos convivido diariamente? mesmo aos amigos mais íntimos só podemos transmitir fragmentos da nossa vida e experiência interiores. não nos é possível revelar todo o nosso ser, nem outros seriam capazes de apreendê-lo. peregrinamos juntos na meia-luz que não permite distinguir nitidamente os traços um do outro. só de tempos em tempos, através de incidentes que nos toquem de perto, ou graças a uma palavra proferida entre nós, subitamente ele se torna visível a nosso lado, como que sob a luz de um clarão. então vemo-lo tal qual é...temos de conformar-nos com o fato de constituirmos um mistério um para o outro. conhecer-se mutuamente não quer dizer que se saiba tudo, um a respeito do outro, mas que se tenham amor e confiança recíprocos, e uma fé mútua. a criatura humana não deve ter a pretensão de querer violar a alma do seu semelhante.


                                                           Albert Schweitzer

                                                           (Minha infância e mocidade)

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