terça-feira, 21 de outubro de 2014

Lucidez


o Senhor Buda viu nossa psique não como átman ou ser cuja natureza é necessário compreender para que retorne em um ponto de nossa trajetória a uma comunhão com Bhrama. preferiu vê-la como um agregado de muitas disposições, que mantém uma solidariedade ao mesmo tempo que uma nociva dispersão, ligadas à nossa ação e à nossa visão do que acontece. ele não criou uma ontologia, antes uma prática para a busca da felicidade baseada na compaixão, substantivo que se desdobra em bondade, gratidão, generosidade, equanimidade, amor, paz, paciência e muitos outros. é uma sabedoria como prática da virtude, é uma prática da sabedoria que se herda dos ensinamentos e se experimenta,  a partir de nossa criatividade, do autoexame meditativo no ponto do nosso caminho, do tempo que é preciso transformar . tampouco os ensinamentos devem ser examinados como condição para serem experimentados, pois antes disso devem ser experimentados, assim como alguém picado por uma cobra deve tomar um antídoto ao invés de indagar especulativamente sobre a cobra. conhecemos muito pouco de nós, mas é possível ser criativo nesse desconhecimento, não nos conformarmos ao que nos coube e aqui nos trouxe, fugindo da ignorância e do fatalismo, como é prudente fugir de uma casa em chamas. nisto consiste a lucidez, se não com desapego, ao menos sem demandas afetivas  desastrosas.


                                                                    Igor Zanoni


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