o Senhor Buda viu nossa psique não como átman ou ser
cuja natureza é necessário compreender para que retorne em um ponto de nossa
trajetória a uma comunhão com Bhrama. preferiu vê-la como um agregado de muitas
disposições, que mantém uma solidariedade ao mesmo tempo que uma nociva dispersão,
ligadas à nossa ação e à nossa visão do que acontece. ele não criou uma
ontologia, antes uma prática para a busca da felicidade baseada na compaixão,
substantivo que se desdobra em bondade, gratidão, generosidade, equanimidade,
amor, paz, paciência e muitos outros. é uma sabedoria como prática da virtude,
é uma prática da sabedoria que se herda dos ensinamentos e se experimenta, a partir de nossa criatividade, do autoexame
meditativo no ponto do nosso caminho, do tempo que é preciso transformar . tampouco
os ensinamentos devem ser examinados como condição para serem experimentados,
pois antes disso devem ser experimentados, assim como alguém picado por uma
cobra deve tomar um antídoto ao invés de indagar especulativamente sobre a
cobra. conhecemos muito pouco de nós, mas é possível ser criativo nesse
desconhecimento, não nos conformarmos ao que nos coube e aqui nos trouxe,
fugindo da ignorância e do fatalismo, como é prudente fugir de uma casa em
chamas. nisto consiste a lucidez, se não com desapego, ao menos sem demandas
afetivas desastrosas.
Igor Zanoni
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