sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Análise




tenho muita paciência com as pessoas e procuro sempre escutá-las antes de dizer qualquer coisa que eu mesmo pense. não distingo para isso idade, sexo ou o tipo de relação em jogo, ou seja, se estou falando com um vizinho, ou um colega, alguém me atendendo em uma loja, ou filho, pelo face, telefone ou diretamente, com um dos meus jovens estudantes da faculdade ou um dos velhos amigos da vida e assim por diante. mas nos últimos anos depois de conversar sinto ao mesmo tempo uma enorme raiva e quase impossibilidade de perceber, ou fazer perceber, o que se passa, em mais ocasiões do que posso suportar. porque me fica claro que o mundo vem dando estranhas voltas, muitas anunciadas há tanto tempo por muitos e tantos unânimes apenas ao concordar que desse jeito não dá. a angústia e o dissabor se generalizam junto com as ideologias e a sua crise no mesmo compasso em que o poder se concentra e se torna um espaço vazio para qualquer sonho. mas ao mesmo tempo é preciso produzir certa paz interna para poder levá-la para as situações e relações. paz e amor, como diz meu amigo zé cury, como disseram tantos sempre. mesmo que se reze, reflita, medite, não é possível fazer isto dentro de um espaço fechado como os que temos. é preciso uma nova volta à natureza, como não se cansam de dizer desde Lao-Tsé  os chineses ( não os que temos hoje ) e, desde Dogen, os japoneses ( idem ibidem ). claro que quem diz algo a respeito é chamado de “romântico” pelos que mesmo à esquerda primam por ser conselheiros do príncipe. eu nem sei mesmo de que natureza mais se trata, aos sessenta e dois anos estou como tolstói com uma louca vontade de fugir de casa.


                                                                      Igor Zanoni

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