quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Canavial



nos escassos, diante da população que os demanda, ônibus de Curitiba, roubar tornou-se muito comum e eu tenho vários amigos, alunos e familiares que foram roubados assim, especialmente nos superlotados vermelhões  que jamais oferecem possibilidade de uma viagem confortável e agora tampouco segura. há poucas semanas uma pessoa foi justiçada em um dos pontos cobertos de metal e fechados, os tubos. claro que se rouba em qualquer parte, falando dos roubos menores. em supermercados, por exemplo: minha sogra há três semanas foi roubada por alguém que fingiu reconhecê-la do posto de saúde do bairro, apanhando seu dinheiro na bolsa. também se mata de muitas maneiras, em bairros pobres assusta o número de mortes diárias, atribuídas ao tráfico como se este fosse um conceito abstrato dispensando agentes, fontes de fornecimento e financiamento, ou segurança para estas fontes. mesmo não matando, se espanca, como ocorreu com quinze indígenas dentre toda uma etnia que perdeu suas terras como várias outras etnias no Paraná nos últimos anos e mal falam o português. o Centro de Línguas e  Interculturalidade da UFPR trabalha com o aprendizado do português com estes indígenas, mas pouco pode a universidade  diante das condições de miséria, exposição a drogadição e outras que eles apresentam. Curitiba tornou-se uma das cidades violentas do Brasil. os autores clássicos da nossa formação social e econômica sempre enfatizaram a violência como um suporte de nossa sociedade heterogênea, pobre e desigual. Chico Buarque em uma ópera disse que a nossa terra ainda iria se tornar um imenso canavial. já se tornou há muito, nossa economia se apoia fortemente no latifúndio exportador que também abastece com imensos problemas ecológicos, sanitários, demográficos e outros, nosso mercado interno.  vivemos, após um ensaio de industrialização e complexificação econômica e social, um período que pode sem muito exagero ser chamado de reversão neocolonial. a economia não precisa muitas pessoas educadas, mesmo que a sociedade precise e as pessoas também precisem dominar a arte de educar-se e educar . o mercado de trabalho por isso não suporta mais médicos, economistas, engenheiros, etc. que se formam com a utopia de um bom emprego e mais paz na vida.  a paz a rigor é muito rara, pois contando ademais do que se disse acima, e do muito que não se disse, os milhões de animais mortos diariamente no maior rebanho de gado de vários tipos que possuímos, é fácil concluir que a violência e a morte são grandes eixos articuladores da vida de todos nós, o que é um paradoxo no mínimo tão estúpido quanto real.


                                                  Igor Zanoni

Nenhum comentário:

Postar um comentário