sexta-feira, 31 de julho de 2015

Sutra do Girassol da Casa China



No delírio febril dos julhos de Curitiba
Nos quais o tempo instável direciona o espírito
Para este e aquele tedioso far-niente
O lodo do que o tempo todo julgamos adequados
Na falta de pensar em algo melhor
O que responder a esta pergunta
Nesta situação que trajeto seguir
Tão pequeno o coração
Tão sem fé tão sem futuro
Construindo escavadeiras para drenar o pântano
Com instrumentos tão precários
Um delicado amor
Um corpo que precisa ser abraçado
E abraça uma carreira ou se casa
Ou sai em passeata de que a polícia ri
Enquanto exercita a mira
Procura uma caixinha onde caiba seu talento 
Pede um empréstimo e não entende bem
O que dizer de suas reais motivações
Passei uma vida cuidando da casa
Pagando ao Caixa
Querendo bem aos filhos
Que não mudam como o parceiro
Eu gostaria que o Universo tivesse um sentido para mim
Eu tão particular tão solto nada sujeito a leis
Descontruir meu Deus meus domingos e almoços turvos
Felizmente os parentes chegam que surpresa
Quem ainda está vivo?
Apenas uma vida toda basta para saber-nos
Mas estamos criando bons adivinhos do apocalipse
Que já não perdem seu tempo é uma pena
Ainda que entrem em igrejas ou bebam com amigos
Ou comprem anéis de compromisso
E postem tudo nas redes sociais em tempo real
Fosse isso um ensaio de orquestra
Tocássemos uma vez ao ano um uníssono
Como bilhões de violinos trespassados
Por uma essência sem ideologia banal
Por um único sentido que valesse a pena
Mas qual?


                                                              Igor Zanoni

terça-feira, 28 de julho de 2015

Compreensão

Compreender tudo o que vem implica imobilizar-se, deixar que o mundo atravesse com suas próprias expectativas e direções o espírito, quando o necessário é buscar o espírito do universo, seu tranquilo silêncio, seu ritmo e seus ciclos que fazem os gerânios verdes, aveludados, e suas flores miúdas vermelhas, enquanto acorda o grão para que brote e aponte para a mão a sua haste. Mas isso é sem razão, fora do âmbito da compreensão, ainda que possa ser expresso por traço rápido e exato no papel de uma bala que sempre há no bolso.

Igor Zanoni

Pessoas complexas e difíceis

Pessoas complexas e difíceis, com enorme dom de sofrimento, conseguiram, não sem árduo trabalho, pensar a sua vida e dizer muito sobre a nossa, ainda que em parágrafos curtos e turbulentos, ou em compassos inesperados e incisivos, dirigidos a si mesmos e, quando puderam, com mais paz e paixão pelo próximo. Eles não seguiram receitas prontas, não foram a um psicólogo banal nem leram tesouros de amenidades para a adolescência, não seguiram rotinas que se encontram em qualquer igreja ao lado de uma locadora de vídeo e uma lojinha de roupas vagabundas. Viveram quase sempre vidas curtas e distantes dos príncipes de plantão, não deram conselhos ao ministro das finanças nem enriqueceram, longe disso, mas chamem-se Rousseau, Kierkegaard, Nietzsche, Charlie Parker, Stan Getz ou por outro nome, a eles nos voltamos, se temos juízo, ainda que não o deles.  .


                                                                     Igor Zanoni

Saber Envelhecer



Uma boa recomendação diante das desventuras é a prática do estoicismo. Cícero escreveu Saber Envelhecer como um manual para os idosos manterem prestígio em um império de guerreiros consumados desenvolvendo esta filosofia de vida. Suas consolações passam pela sabedoria que a velhice traz como substituto da força física e recomenda que no Senado ou na praça pública os idosos falem lenta e gravemente, com o timbre de voz grave que em geral têm, sugerindo direções para a guerra ou os negócios do Estado, por exemplo. Ele lutou com essas armas contra Marco Antônio, que em troca mandou mata-lo. Quando estava para partir para o Egito, um soldado pediu a este para leva-lo, e Marco Antônio perguntou se ele era estoico. A justificativa do general era que os estoicos, quando se cansam, começam a beber como ninguém. Ou oito ou oitenta, costumam ser os estoicos.


Igor Zanoni  

sábado, 25 de julho de 2015

Silêncio



É verdade que os buscadores do caminho o alcançam em um silêncio tranquilo, mas este é preparado por uma vida de muitas pausas, escuta dos mestres, olhar para o altar acima de suas cabeças até que o silêncio seja compreensível e necessário, que a vida se torne compreensível e necessária, porque de outro modo eles ( o silêncio, a vida ­­) não seriam.

Igor Zanoni