Dia 10 de julho, sexta-feira à tardinha, somam-se o
final de semana, o dia do pagamento, o fim do dia na imensa Praça Ruy Barbosa,
imenso complexo de pontos de ônibus para toda Curitiba, não obstante sua
insuficiência para tanta gente que espera pegar o quinto, sexto ônibus, sei lá,
cansada em uma fila aliás diária, uma das coisas que mais cansam no trabalho e
no dia a dia. A Praça também chama gente pobre e trabalhadores por sua grande e
milagreira igreja, gente que traz os filhos para um eventual futuro garantido
no Colégio Bom Jesus, de sinistro assédio lembrado por tantos ex-alunos,
estudantes que fazem a FAE à espera de um emprego em uma indústria ou banco,
muitos com financiamento público e que não puderam nem passar na Federal nem
pagar a PUC. Mas também há a Rua da Cidadania, onde é mais prático tirar
segunda via de documentos ou pagar o IPTU atrasado, entre outras demandas do
Estado, que também e talvez especialmente para essa gente pobre tenha tantas
demandas, o Seminário dos franciscanos e muitas lojas de produtos baratos para
ninguém ficar muito bonito na fita nem passar vergonha. Como no final de semana
há parentes, almoço na casa da mãe, por exemplo, e é preciso caprichar na
comida, há vários açougues também com longas filas, longas como as linguiças no
vidro, mas com pessoas que também gostam de um pernilzinho gordo de porco, tão
apetitoso. Apesar do mau transporte urbano, dos inúmeros problemas da cidade,
da loucura do trabalho, das grandes esperanças mantidas com promessas e
dívidas, seguro mesmo é que agora há um dinheirinho no bolso e uma costela
quase ao alcance da mão, bastando esperar um pouquinho a fila andar. Que feliz
coincidência dia 10 cair na sexta e já estar na hora de voltar para casa, ainda
que esta seja distante! De carro não se sabe, mas de ônibus com certeza se
chega a qualquer lugar em Curitiba.
Igor Zanoni
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