segunda-feira, 13 de julho de 2015

Criança



qualquer um hoje sente que a conversa é algo do passado. quando se diz algo a uma pessoa, ela, em vez de escutar, coloca utilitariamente o falante em seus formulários e protocolos interiores inconfessáveis. problemas morais afligiam muitos homens que representavam o ethos de sua época. essas questões foram resolvidas quando se busca conquistar isto e aquilo, por exemplo, com doações e barganhas do mais claro materialismo espiritual ou quando a política e qualquer cargo, mesmo o de síndico de prédio, serve de suporte a um ganho financeiro sem ligação com nenhuma convicção e valor coletivo. as crianças do ginásio tinham um discernimento muito apurado e ético de problemas práticos e ainda têm. quando uma delas fazia uma bobagem e tentava corrigir com bobagens extras, os outros logo aconselhavam a não remexer na merda que foi feita e a ficar calmo para enfrentar as consequências. quando outra emitia uma opinião que impossibilitava a continuidade da conversa, logo era advertida de que estava jogando merda no ventilador. quantas vezes minhas orelhas arderem com um colega gritando: “você perdeu uma ótima chance de ficar calado!”.  como valia e vale a pena  ouvir uma criança!


                                                                          Igor Zanoni

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