Spinoza lembrou no século XVII uma variante do
platonismo supondo que nosso sofrimento surge das falhas do nosso conhecimento.
Nossas emoções seriam para ele mal organizadas intelectualmente quando falseiam
a natureza do nosso intelecto. O dever de cada um para consigo é perseverar
naquilo que o fortalece e mantém, ao mesmo tempo retendo junto a esse auto
interesse uma moral que permita aos outros também preservar em seu auto
interesse. O sofrimento pode ser evitado pela contenção pessoal e pelo
alinhamento das emoções com os nossos intelectos. Mas, além disso, a razão
exige o aperfeiçoamento de qualidades como a compreensão e o conhecimento,
levando a um auto aperfeiçoamento centrado na busca de Deus, cujo sentido
envolve não uma divindade antropomórfica, mas a natureza e a ideia de cada todo
ser e seu entrelaçamento. Este é um
misticismo racionalista, que supõe menos o amor como resposta aos males humanos
que a reflexão e a resignação, ou seja, o estoicismo, esta variante filosófica
que competiu com o cristianismo pela primazia da sabedoria nos árduos séculos
do Império Romano. Filosofia que exige fé na razão e ética inflexível de
obedecer nossa natureza racional, assim como sua alternativa exige fé no amor e
força para obedecê-lo mesmo quando isto parece contrário à nossa tendência de
auto preservação e quando a sabedoria é loucura aos olhos humanos, como afirma
Paulo. Inclusive porque a sociedade humana pode buscar e busca fins absurdos e
destrutivos, o que Spinoza mesmo logo percebe.
Igor
Zanoni
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