a unívoca realidade, toda a matéria divina em seus
modos de extensão e pensamento, consiste no ronco do v-8, que oscila com as
massas de nuvens e as correntes aéreas, sobre as pradarias da França
setentrional, seus campos de uvas e trigo. impossível todavia ver senão o
mínimo painel da velocidade, da bússola e do odômetro, enquanto se apertam sob
a máscara os olhos ofuscados pelo cansaço, o corpo gelado pela altura. não há
previsão para a paz, e o ronco será ouvido por muito tempo, lembrado
eternamente enquanto se esquece a impossibilidade de fazer a barba, o gosto de
um bordeau ou a suavidade daqueles lábios. o esquecimento atinge a fuselagem,
sua forma e sua cor, o ronco envolve a máquina do mundo e a consciência
diuturna da batalha. ainda há tempo para entregas das insones farmácias, com
todos os seus fregueses cadastrados e fidelizados no sistema, das pizzas e
hambúrgueres assassinos devorados a qualquer hora, como se desejassem a
eternidade para a devoração de toda a sua toxidade. agora é a última casa da
quadra, para aquele sujeito tenaz que quase toda noite tenta chegar a algum
lugar com tudo isso, enquanto viver, sem sair de casa, sem ligar sequer para o
CVV ou para uma garota de programa. mas a batalha dele não é a do piloto, e
este segue seu voo noturno até o dia em que o jornal noticiar na última página,
em letras que ninguém lê, o fim da terra e do céu.
Igor Zanoni
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