quarta-feira, 1 de julho de 2015

Só um beijinho

quando almoço no centro em geral vou ao Mikado porque gosto daquele pedaço da cidade, onde tenho muitos antigos conhecidos. com a revalorização que está havendo nos terrenos do centro, empreiteiras desejam derrubar os velhos prédios que existem por ali, e naquele pedaço, entre a Riachuelo, a Treze de Maio e a São Francisco, há uma disputa difícil que, espero, talvez não seja vencida por esses monótonos e imensos prédios mal construídos que se esfarelam em dez anos sobre a paisagem viva e as personagens de uma cidade que em alguns espaços me é saudosamente querida. personagens como o casal que ia do outro lado da rua, subindo devagar, altos, escuros, um pouco andrajosos mas não como os moradores das praças costumam ser. eram pessoas bastante ligadas a outras relações afetivas, a uma casa ou um lar, digamos, e ela brigava preocupada em ser obedecida sem ter de gritar na rua, enquanto ele brincava tentando diluir a situação, fazendo caretas e pedindo: “está bem, mas agora me dá um beijo, só um beijinho!”. realmente, um beijinho é muito bom e às vezes faz muita falta.

                                                               Igor Zanoni

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