mesmo um consumado poeta bem sabe
não ser possível a nós nos dizermos por completo
e tanto do que podemos não devemos
seria tentar escapar do que compartilhamos
com os carvalhos e as violetas
as anêmonas algas cavalos-marinhos
os himalaias as auroras
a polinésia os deuses ainda não revelados
sabemos que também nós pertencemos
a um silencioso vórtice
e o que dizemos são fantasias e aproximações
tantas vezes convincentes
nada nos caracteriza tanto quanto nossa retórica
tão tagarela e utilitária
mas em nós brota por vezes a ânsia de voltar
percebemos o quanto estamos distantes
em periferias e bordas mentirosas
e já não sabemos se é possível voltar
se perdemos o caminho
se a palavra caminho pode ser dita ainda
se alguma vez pôde
e giramos como dervixes buscando
uma sábia inconsciência
Igor Zanoni
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