segunda-feira, 8 de junho de 2015

Madrugada

eu sou um homem triste
tristíssimo
ninguém imaginaria essa tristeza marítima
transluzindo em copos vulgares de cerveja
no tempo sem tempo da madrugada
tristeza que não se diz
não se sabe senão que em seus ritos
vara as ruas ouvindo um blues
que ninguém parece ouvir
ainda que soe em tão alto e bom som
pernas pernas as minhas boas pernas
sobre os tênis da adolescência também tão triste e tão só
herança dos pés no chão da infância
quando eu olhava pela janela
e queria sair para um mundo que eu já sabia
não existiria
teria eu de ser seu criador tão só
buscando abraços amigos tangos
essa tristeza que se dança
tão só em uma multidão de amores
esse bar que não fecha
a vida que não fecha
como é heroico ser tão jovem e tão triste
cruza o silêncio o caminhante noturno
a alma um generoso comboio
a caminho de seu nirvana


                                                                                  Igor Zanoni

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