Em meados dos
sessenta, o bairro do Castelo em Campinas era tipicamente ocupado por uma nova
classe média, que todo o tempo construía casas, comprava novos terrenos,
adquiria carros e se tivesse mais sorte mudava para bairros ainda mais novos e
prósperos como Nova Campinas. Havia pobres, mas não muito pobres, nenhum
miserável. Uma família próxima na qual eu tinha dois amigos com os quais jogava
bola era composta de trabalhadores em fábricas que se expandiam ali. Via um
deles, Darci, sair cedo de casa e eu procurava pensar que tipo de pessoa era
ele, um trabalhador. Na Igreja Adventista que minha família frequentava havia
uma grande mescla social de classe média e pobres de todo tipo, que minha mãe
entre outras mulheres atendia com trabalho voluntário de costura ou cozinha. Eu
entregava com meus pais essas roupas no sábado, e ia a casamentos modestos em
bairros distantes, mas também se erguendo do chão. A apartação social era, sem
muito discurso, evitada com trabalho comunitário, em toda Campinas havia a
ideia de que mesmo os mais pobres eram úteis e necessários à sociedade e a
grande margem social de hoje não existia. Quando fui fazer Economia na recém-fundada
Unicamp eu gostei muito de tudo que era progressista e mesmo jacobino, mas não
era familiarizado com o discurso que aprendia em Marx e outros, tudo era
novidade nesse campo, mas eu assimilei bem porque tinha essa percepção cristã desde
casa. Não apenas eu me sentia assim. Na sala ao lado do Instituto de Filosofia
e Ciências Humanas os alunos do segundo ano de Ciências Sociais tiveram a ideia
de trazer para a aula um homem que era operário em uma indústria da região. Foi
a estranha forma que encontraram de conhecer um pouco a classe operária.
Igor Zanoni
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