talvez isto seja incompreensível para muitos hoje, mas
logo que aprendi a ler e escrever passei a manter uma correspondência com minha
avó que durou muitos anos. eu morava em Campinas mas tínhamos vindo do Rio com
meu pai que era oficial do Exército, minha avó passava as férias conosco ou eu
ia para lá com tio Newton, que possuía um escritório em São Paulo. no
intervalo, eu tinha um motivo para diminuir minha ociosidade e meu tédio
escrevendo cartas que nada diziam de essencial, enviavam mensagens banais sobre
nós e perguntava sobre a saúde de todos por lá. o importante era comprar papel
de carta, havia de vários tipos e preços, envelopes comuns brancos ou com
bordas listradas verde e amarelas, e um aviso “Via aérea-Par avion”, para que
ficasse claro que o Correio entregava suas encomendas através de transportes
rápidos e eficientes. eu começa com um
clássico : “Querida vovó, abençam”, pois sequer sabia escrever um pedido
convencional de benção, que todas as crianças pediam a seus pais e avós. mas
ela respondia com um “Deus te abençoe”, falava um pouco de si, da crônica
enxaqueca de meu avô e copiava versículos bíblicos, em geral retirados das
cartas de Paulo a Timóteo, com muitos conselhos sobre como um jovem deve viver.
sei de cor esses conselhos, e Paulo se tornou meu herói, maior que Jesus,
dando-me um indelével vezo protestante.
Igor Zanoni
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