um dia a tristeza que ronda o mundo desde a queda
concentrou-se sobre o pequeno e gelado Uruguai, justo na cabeça do escritor
mais triste que jamais existiu, Juan Carlos Onetti, autor do célebre “ Poço”,
não leia se ainda não leu, não se jogue em um poço você também se a curiosidade
for maior que a prudência. mas como um homem amoroso, escreveu também “Tão
triste como ela”, não leia se for uma moça triste. nunca tive uma filha, e
minha única neta é alegre como apenas bailarinas de street dance podem ser, mas
tenho notado ultimamente muitas moças tristes na vida das minhas retinas
indignadas. hoje cedo, na sala vazia do
final do semestre, meu amigo L. tomou o tempo para falar de seu assunto
predileto: o movimento punk, o anarquismo, a poética do Sex Pistols e do The
Clash. havia uma moça bem jovem, deitada sobre duas ou três carteiras, que
começou sua educação política nos recentes eventos do Centro Cívico em Curitiba
levando balas de borracha e ganhando uma tristeza inesperada. em certo ponto
da conversa fomos andando para o elevador e eu notei um cordão de metal
gingando na calça da moça. meu amigo comentou: “Ela virou punk também”. bem,
pensei, não é tão sério então, os punks são divertidos. mas não tenho certeza.
talvez seja prudente inserir street dance no currículo dessas jovens que vivem
nas “Cidades rebeldes”, o triste best seller de David Harvey.
Igor Zanoni
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