quarta-feira, 24 de junho de 2015

Só o princípio



um dia a tristeza que ronda o mundo desde a queda concentrou-se sobre o pequeno e gelado Uruguai, justo na cabeça do escritor mais triste que jamais existiu, Juan Carlos Onetti, autor do célebre “ Poço”, não leia se ainda não leu, não se jogue em um poço você também se a curiosidade for maior que a prudência. mas como um homem amoroso, escreveu também “Tão triste como ela”, não leia se for uma moça triste. nunca tive uma filha, e minha única neta é alegre como apenas bailarinas de street dance podem ser, mas tenho notado ultimamente muitas moças tristes na vida das minhas retinas indignadas. hoje cedo, na sala  vazia do final do semestre, meu amigo L. tomou o tempo para falar de seu assunto predileto: o movimento punk, o anarquismo, a poética do Sex Pistols e do The Clash. havia uma moça bem jovem, deitada sobre duas ou três carteiras, que começou sua educação política nos recentes eventos do Centro Cívico em Curitiba levando balas de borracha e ganhando uma tristeza inesperada. em certo ponto da conversa fomos andando para o elevador e eu notei um cordão de metal gingando na calça da moça. meu amigo comentou: “Ela virou punk também”. bem, pensei, não é tão sério então, os punks são divertidos. mas não tenho certeza. talvez seja prudente inserir street dance no currículo dessas jovens que vivem nas “Cidades rebeldes”, o triste best seller de David Harvey.


                                                                          Igor Zanoni

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