no mestrado no IE encontrei
um professor que se tornou muito próximo por muitos anos, e chegou a vir
trabalhar em Curitiba nos melhores tempos do Ipardes-Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social. seus pais haviam fugido com muitas
peripécias da Finlândia antes da guerra e adotaram um nome de fantasia que
significada em finlandês algo como duende dos bosques, salvo engano. era muito
só e vivia de uma maneira bastante particular, e foi meu professor de matemática.
era um excelente matemático, especialista em topologia, quase desconhecida no
Brasil daquele final dos anos setenta. mas também tinha uma sólida cultura
geral e, mais do que isso, uma grande capacidade de pensar com profundidade e
propriedade sobre quase qualquer tema que encontrasse nas conversas com os
alunos ou colegas. um dia na casa que dividíamos com outros amigos no Jardim
Social a conversa caiu sobre o tema do tempo em Marx e ele passou a discorrer
sobre algo que ninguém jamais havia lido ou pensado, fosse em Marx fosse em
seus comentadores. notoriamente era o chamado “gênio louco”, e eu adorava
conversar com ele e sair do tédio cotidiano de um aluno de economia. sua vida
foi marcada por muitas dificuldades, e
o professor Waldir Quadros quando se tornou diretor do IE teve a feliz ideia de
aposentá-lo, ideia que ele nunca admitira mas aceitou após uma séria conversa,
pois sua dificuldade em seguir uma rotina era óbvia. discreto, sério, só mudava
o tom quando alguém o incomodava muito falando de sua dificuldade em cumprir
compromissos. então ele sibilava baixinho a única injúria e a única defesa que
parecia conhecer. indignado, dizia uma
terrível praga: “ vai tomar no meio do seu cu”. para ele era uma terrível
maldição, trazida talvez de sua infância finlandesa.
Igor Zanoni
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