sexta-feira, 5 de junho de 2015

Aristóteles



Atenas não poderia sonhar com a boa sorte que representaria a vinda de Aristóteles de Estagira. Ele se tornaria o filósofo por excelência para o futuro do mundo, simplificando e dando ordem e clareza a Platão seu mestre e a todos que o antecederam. À guisa de exemplo, o dualismo platônico foi transformado na unidade entre corpo e alma, tornando um causa do outro e dinamizando o ser humano por uma teleologia. A articulação entre forças produtivas e relações de produção explicando a dinâmica capitalista foi um assalto de Marx a Aristóteles, que já havia sido assaltado por Hegel e pelo liberalismo clássico. Ainda hoje Amartya Sen, por exemplo, afirma que as oportunidades que uma pessoa recebe na sociedade atualizam sua capacidade de ter saúde ou ser incluído no mercado, outro gritante assalto a Aristóteles. Mas os exemplos podem se multiplicar. Deixado a si mesmo para onde um corpo tende? É claro: ao seu lugar natural. Freud passou a vida reinterpretando tal tendência e seus dissabores quando impedida de agir com o nome de libido. A Idade Média também: para onde tendem os pecadores? Para o inferno. E os santos? Para o céu. E os outros? Para o purgatório, que é uma média dos dois. Nada mais claro. Aristóteles foi um dos homens que inventaram o bom senso na história do mundo e das ideias, o maior deles. Não era belo como Alcebíades ou um grande amante como Platão, nem sabia geometria como Pitágoras. Mas explicava tudo de modo acessível, irrecusável. Na verdade nós todos ainda somos aristotélicos. Ele foi para a filosofia o que Eric Clapton é para o blues, uma pessoa da qual todos gostam e nem podem deixar de gostar, seria difícil encontrar um bom motivo, ambos são exatos, adequados e chatos.

                                                                                    Igor Zanoni

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