Atenas não poderia sonhar com a boa sorte que
representaria a vinda de Aristóteles de Estagira. Ele se tornaria o filósofo
por excelência para o futuro do mundo, simplificando e dando ordem e clareza a
Platão seu mestre e a todos que o antecederam. À guisa de exemplo, o dualismo
platônico foi transformado na unidade entre corpo e alma, tornando um causa do
outro e dinamizando o ser humano por uma teleologia. A articulação entre forças
produtivas e relações de produção explicando a dinâmica capitalista foi um
assalto de Marx a Aristóteles, que já havia sido assaltado por Hegel e pelo
liberalismo clássico. Ainda hoje Amartya Sen, por exemplo, afirma que as
oportunidades que uma pessoa recebe na sociedade atualizam sua capacidade de
ter saúde ou ser incluído no mercado, outro gritante assalto a Aristóteles. Mas
os exemplos podem se multiplicar. Deixado a si mesmo para onde um corpo tende?
É claro: ao seu lugar natural. Freud passou a vida reinterpretando tal
tendência e seus dissabores quando impedida de agir com o nome de libido. A
Idade Média também: para onde tendem os pecadores? Para o inferno. E os santos?
Para o céu. E os outros? Para o purgatório, que é uma média dos dois. Nada mais
claro. Aristóteles foi um dos homens que inventaram o bom senso na história do
mundo e das ideias, o maior deles. Não era belo como Alcebíades ou um grande
amante como Platão, nem sabia geometria como Pitágoras. Mas explicava tudo de
modo acessível, irrecusável. Na verdade nós todos ainda somos aristotélicos.
Ele foi para a filosofia o que Eric Clapton é para o blues, uma pessoa da qual
todos gostam e nem podem deixar de gostar, seria difícil encontrar um bom
motivo, ambos são exatos, adequados e chatos.
Igor Zanoni
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