Campeonato
paulista
no tempo da lei do
passe e da alta cartolagem, como Athiê Jorge Cury no Santos FC e Vicente
Matheus no Corinthians, que fizeram por décadas de seus clubes um negócio
privado, determinando em grande medida o salário, nunca muito elevado mesmo
para grandes craques como o notório Pelé, o valor do passe, os bichos pela
vitória, o tempo das concentrações no clube, e que tinham enorme influência na
Federação Paulista de Futebol, na indicação dos juízes e impediam a queda para
a divisão intermediária de clubes da capital que em certo campeonato não iam
bem, faziam as malas pretas e compravam juízes e jogadores do time adversário,
paradoxalmente os times pequenos não iam mal no jogo propriamente dito,
disputado entre as quatro linhas do campo. cada jogo valia então dois pontos,
em caso de vitória, e o empate um ponto para cada clube. os clubes do
hinterland paulista, como diziam então os locutores de rádios, quando jogavam
contra um time da capital, especialmente se jogavam no campo deste, armavam a
chamada retranca, isto é, punham todo mundo no seu campo em cerrada defesa,
deixando um jogador à frente para puxar o contra-ataque. em geral o
ponta-direita ou o centroavante ficava em uma beirada do campo, pouco vigiado,
e se deslocava rápido quando o time adversário perdia a bola. muitas vezes
recebia então um passe longo, de trinta metros, por exemplo, valor então
convencional, feito por um canhotinha que jogava de meia-esquerda, em geral com
a camisa 10. com isto os times pequenos eram uma pedra no sapato nos grandes, e
muitas vezes venciam inclusive seus jogos. o Juventus da rua Javari era
conhecido como “moleque travesso” por façanhas como estas. os times raramente
vendiam seus jogadores, e mantinham um elenco equilibrado e que se conhecia
bem, definindo um bom “padrão de jogo”. alguns chegaram a conhecer grandes
fases, como a Ponte preta no tempo de Valdir Peres, Samuel,Nelsinho, Odirlei, Dicá,
Alan, Tuta e outros. mas essas grandes fases atraiam a atenção dos times
grandes. Valdir Peres por muito tempo foi titular da Seleção assim como Samuel,
Nelsinho foi para o São Paulo como ambos , Odirlei e Tuta para o Corinthians,
Alan para o Vasco, Dicá ficou um tempo no Santos onde arrumou o time que
atravessava má fase técnica e financeira, e depois se transferiu para a
Portuguesa de Desportos. Em geral os jogadores se mantinham onde apareciam.
Rosã, grande goleiro do Comercial, Ambrósio, que jogou até seus quarenta e dois
anos no América de Rio Preto no qual pendurou as chuteiras, por muito tempo os
irmãos Brida e Brecha no meio-campo do Juventus, Dimas no Guarani, Bazani e
Bazaninho no meio-campo do Botafogo de Ribeirão Preto e assim por diante.
quando era jovenzinho sabia de cor todos as escalações dos times paulistas.
muitas vezes um jogador em fim de carreira parava num desses clubes, que aliás
os procuravam muito. foi assim que o São José, de São José dos Campos, montou
um notável e quase imbatível esquadrão nos anos oitenta, sustentado
especialmente pela categoria de seu beque central, o grande Luís Pereira. os
três pontos em caso de vitória acabou com muitas pretensões desses pequenos
clubes, além do fim da lei do passe, que não lamento mas fez dos clubes e
jogadores um local para investidores, internacionais inclusive, montarem
estratégias para ganhar dinheiro nos clubes grandes. em homenagem aos grandes
times pequenos de então, lembro o Noroeste de Bauru, o XV de Jaú, o São Bento
de Sorocaba, o América de São José do Rio Preto, o São José de São José dos Campos, a temida
Ponta Preta, o forte Guarani, ambos de Campinas, o Botafogo e o Comercial, de
Ribeirão Preto, o XV de Piracicaba, o Marília, o Juventus, o Taubaté, chamado o
“burro da central” porque seu símbolo era um burro, a Portuguesa Santista, o
Jabaquara, o Americana, o Mogi-mirim de Rivaldo, o Paulista de Jundiaí, a Ferroviária de Araraquara e o grande Internacional de Limeira de Gilberto Costa, mas o tempo e a
memória esqueceram muitos outros.
Igor
Zanoni
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