domingo, 19 de janeiro de 2014

Futebol-arte

quando comecei a ver futebol, indo a pé do Rocha ao Maracanã com meu tio Pedro, característico torcedor do América, as posições dos jogadores eram ainda denominadas por sua origem inglesa, e havia o half-direito, o half-esquerdo, o center-for, o back e o quarter-back, o goal- keeper e assim por diante. o esquema tático de então produziu o futebol-arte, não por ser virtuoso em si, mas por possibilitar virtuoses, não apenas as mais conhecidas como Pelé, Garrincha, Didi, Jair da Rosa Pinto, mas muitas outras que é impossível destacar sem ser injusto com as demais. Cito apenas duas que admiro em especial, compondo um fantástico meio de campo no Olaria. Não só eram grandes mestres, como Afonsinho foi o primeiro jogador brasileiro a não ter passe preso a nenhum senhor feudal entre os que comandavam os times de então, e Roberto Pinto foi o último clássico: jogava de cabeça erguida, sem olhar a bola, que colocava com sua perna esquerda no lugar do campo que queria. Até recentemente, apenas Seedorf fazia isso. hoje os esquemas táticos tornam quase impossíveis jogadores assim, com esse gabarito. há no entanto algumas exceções, como Messi e, há mais tempo, Romário. isso se deve, dizem, a que ambos possuem uma característica neurológica de só prestarem atenção no que estão fazendo no momento, sem se distraírem. daí essa facilidade de drible, essa habilidade que levou, por exemplo, Romário, quando esteve na Holanda, a quase fazer gol de bunda. só isso ele não fez, e talvez Messi ainda venha a fazer.

                                                Igor Zanoni   

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