quando o cego passava na tarde ensolarada eu me sentia
preso em outro tempo, doloroso e incerto. uma das suas mãos tocava o ombro de
um garoto, que o guiava, e vendia vassouras coloridas e rodos. quase todos os
cegos vendiam tais utilidades domésticas, mas nunca vi minha mãe se interessar
por estas assim oferecidas. seus olhos não eram protegidos por óculos, que
então eram caros, e apareciam turvos e brancos, incapazes de dar ao rosto uma
direção ou um semblante que eu reconhecesse. este era um momento silencioso e
de pesar, como o das procissões, e me parecia que o cego vivia em um reino que
não era deste mundo.
Igor Zanoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário