domingo, 21 de setembro de 2014

Reino


quando o cego passava na tarde ensolarada eu me sentia preso em outro tempo, doloroso e incerto. uma das suas mãos tocava o ombro de um garoto, que o guiava, e vendia vassouras coloridas e rodos. quase todos os cegos vendiam tais utilidades domésticas, mas nunca vi minha mãe se interessar por estas assim oferecidas. seus olhos não eram protegidos por óculos, que então eram caros, e apareciam turvos e brancos, incapazes de dar ao rosto uma direção ou um semblante que eu reconhecesse. este era um momento silencioso e de pesar, como o das procissões, e me parecia que o cego vivia em um reino que não era deste mundo.


                                                                  Igor Zanoni

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