o
maior shopping da América Latina, na rodovia d.Pedro, engoliu um terço do
enorme bairro do Taquaral, em Campinas. meu pai o frequentava, sempre foi
novidadeiro e gostava de americanidades, mas eu só conheci em fevereiro, com
meu irmão Felippe, a Luz e o Caio. caraca! era maior que a nave estelar
Enterprise, com vários níveis, uma altura que se pode medir em anos-luz,
cinemas de onde se pode sair diretamente para comprar o que podia querer ou não.
ali você tem a sensação de que está comprando ou precisando comprar, que seu
bolso está se esvaindo, que era melhor ter logo um cartão de crédito ilimitado incrustado num chip no dedo indicador, e de
que pode se encher de coisas que não compreende. a imensa praça de alimentação
tem de frutas e restaurantes veganos a churrascarias e mil fast-foods, mas se alguém
come um pedaço de torta, por exemplo, não só paga por muitas e muitas tortas
como pode ter certeza de que o recheio foi produzido há anos em algum rancho do
Texas ou no Vietnam, triturado, congelado, ensacado e que o rapaz da cozinha só
despeja a torta em microondas para você comer com um suco de laranja muito mais
alanrajado que qualquer pôr-do-sol de Stanley Kubrick. a Luz pediu uma salada e ganhou um monte de
alface cor de celofane coberto com um abundante suposto queijo ralado,
demonstrando a magnificência do Cantinho do Camarão, onde estávamos. mas a Luz
está acostumada com tudo isso e reclamou que o rapaz da pretensa cozinha
colocou queijo demais. acho que ela é uma autêntica consumidora com a soberania
e o direito de escolha de que falavam os manuais de micro (talvez ainda falem,
decerto falam) e que tem consciência do que quer e do que não quer, mas achei
que o maior shopping da América Latina seria capaz de fazer de mim pelo menos o
que bem entendesse. ser curitibano tem aspectos insólitos, sabemos, os que aqui
vivemos, como sofrer quando se está em Curitiba e quando se conhece o espaço
exterior, pois ambos cabem na auri sacra fames, cada vez com aspectos mais
alienígenas , no fundo os mesmos que trouxeram para cá as caravelas de Cabral ,
o frei Henrique Soares de Coimbra, Mem de Sá , a Coroa Inglesa, a Caterpilar e
o final dos tempos.
Igor Zanoni
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