Georges Simenon escreveu um livro, muito conhecido
entre os adeptos dos seus romances, chamado O Gato, no qual transfere ao leitor
com um rigor analítico todo a psique e o eros de um gato. Nunca um gato fascina
como o gato de Simenon, mesmo com seu conhecido dom de fascínio e personalidade
insubornável. Baudelaire também escreveu um soneto memorável ( começava assim,
desculpem o francês que esqueci: les amoreux fervents e le savants austères
aiment également les chats, orgueil de la maison, qui comme eux son doux e
comme eux son frileux ), tão memorável que foi analisado por um famoso
linguista pelo método estruturalista ( nessa época o auge da linguística foi o
Curso de Saussure que era lido no curso básico de Ciências Humanas ). Claro que
ninguém havia entendido até ser explicado por esse erudito todo o rigor, a
luminosidade, a suntuosidade de Baudelaire, foi o que deve ter pensado tal erudito,
não me lembro o seu nome mas é conhecido, hoje se acha fácil no google que é o vasto
depósito moderno de todas as coisas ainda que não se saiba quem as colocou ali
embora com certeza estejam. Penso que é óbvio, aliás quase sempre só consigo
pensar o que é óbvio, que os seres que nos atraem são para nós sempre um tanto
de gatos, partilhando de sua essência fugaz e luminosa. Quando amamos alguém,
quase nunca sabemos por que exatamente, ficamos um pouco obsessivos pelos
menores movimentos desse ser, pelos insignificantes sentidos que uma
manifestação sua possa ter nos ligando a ele ou nos separando para sempre. Como
alguém que sai ao quintal para ver a lua, vê um gato branco sobre o muro. O seu
olho devolve a luz do quintal, pára um segundo com os músculos prestes a saltar
para o terreno ao lado e o alguém fascinado arrisca um miserável: psi psi psi
aqui bichano...
Igor Zanoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário