terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Gatos


Georges Simenon escreveu um livro, muito conhecido entre os adeptos dos seus romances, chamado O Gato, no qual transfere ao leitor com um rigor analítico todo a psique e o eros de um gato. Nunca um gato fascina como o gato de Simenon, mesmo com seu conhecido dom de fascínio e personalidade insubornável. Baudelaire também escreveu um soneto memorável ( começava assim, desculpem o francês que esqueci: les amoreux fervents e le savants austères aiment également les chats, orgueil de la maison, qui comme eux son doux e comme eux son frileux ), tão memorável que foi analisado por um famoso linguista pelo método estruturalista ( nessa época o auge da linguística foi o Curso de Saussure que era lido no curso básico de Ciências Humanas ). Claro que ninguém havia entendido até ser explicado por esse erudito todo o rigor, a luminosidade, a suntuosidade de Baudelaire, foi o que deve ter pensado tal erudito, não me lembro o seu nome mas é conhecido, hoje se acha fácil no google que é o vasto depósito moderno de todas as coisas ainda que não se saiba quem as colocou ali embora com certeza estejam. Penso que é óbvio, aliás quase sempre só consigo pensar o que é óbvio, que os seres que nos atraem são para nós sempre um tanto de gatos, partilhando de sua essência fugaz e luminosa. Quando amamos alguém, quase nunca sabemos por que exatamente, ficamos um pouco obsessivos pelos menores movimentos desse ser, pelos insignificantes sentidos que uma manifestação sua possa ter nos ligando a ele ou nos separando para sempre. Como alguém que sai ao quintal para ver a lua, vê um gato branco sobre o muro. O seu olho devolve a luz do quintal, pára um segundo com os músculos prestes a saltar para o terreno ao lado e o alguém fascinado arrisca um miserável: psi psi psi aqui bichano...     



                                                    Igor Zanoni  

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