quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Educação e Precaução


Educação e Precaução


A insegurança no emprego e na renda e em especial o declínio observado na classe média levam as famílias a uma estratégia de gastos com educação extremamente motivada pela precaução com o futuro. Jovens que estudaram em boas escolas e conseguiram um emprego razoável comprometem uma parcela enorme da renda com uma educação para os filhos que pretensamente lhes garanta uma posição competitiva no mercado do trabalho. Seus filhos são matriculados em caras escolas privadas, principalmente as de caráter confessional, além de estudarem uma ou duas línguas, matemática no Kumon e assim por diante, tentando blindar o futuro da criança. Além de retirar boa parte do tempo que esta precisa para brincar, ter tempo livre para suas próprias iniciativas, explorar seu corpo com jogos e outras atividades lúdicas, e de estressar a criança com muitas obrigações cotidianas, a criança demasiado ocupada estressa os pais também como gerentes do seu futuro profissional. Mas é possível compreender esses pais quando se faz uma entrevista para o emprego, na qual se exige para cargos melhor remunerados, embora ainda mal pagos, que o candidato logo depois de formado por uma escola conceituada encaminhe-se para uma pós-graduação, fale bem uma ou duas línguas para poder viajar pela firma, faça academia para demonstrar seu interesse pelo joie de vivre , entre outras exigências. Embora as escolas privadas vistas como de boa qualidade sejam uma opção para formação universitária, qualquer professor sabe como remuneram mal seus funcionários, dificultam seus professores para cursar níveis mais elevados de pós-graduação, e têm uma visão mercantil que as leva a uma propaganda de que elas preparam o aluno para ganhar dinheiro. O logotipo da Faculdade de Economia da PUC/PR explicita que se trata de uma “Escola de Negócios”e não uma faculdade de economia visando um conhecimento menos pontual e mais humanista. O comprometimento com a sociedade se dilui, exceto se pensarem que fazer negócios resulta no melhor esforço em prol do homem comum. O ensino público ainda é o mais valorizado, mas muito concorrido, deixando muita gente de fora, nem sempre dando aos alunos uma formação de elite, à exceção das grandes universidades de São Paulo ou Rio de Janeiro. Mas a pior face dessa história é  a vinculação da criança desde cedo com o ganhar, o ter, o vencer, escalar...Lembro de ter lido em um dos pedagogos da geração baby boom que vencer é a regra dos jogos e do esporte, mas não pode ser um lema da vida, que deve estar voltada antes para a solidariedade, a solução dos grandes problemas humanos e as grandes questões da vida. Keynes sonhava com um futuro tão seguro para todos que a preocupação com ganhar muito dinheiro seria supérflua e mesmo doentia, deixando tempo livre às pessoas para pensarem e viverem o que realmente importa. mas o atual apartheid que se vive no Brasil e na maior parte do mundo faz as pessoas- quando podem- correrem à toda atrás da grana.


                                                                                                             Igor Zanoni

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