quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Escola 3


Escola 3

Trabalho no departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná. Recebemos todos os anos quase duzentos novos alunos, em um vestibular pouco concorrido. Estes alunos muitas vezes são medianos, com dificuldade de compreensão de um texto, deficiência em línguas estrangeiras e em, matemática e em cultura geral e outros problemas. Mas não todos. Há alunos muito interessantes, para os quais é um prazer é dar aulas ou fazer juntos com eles outro tipo de trabalho. Diversos não são jovens, muitas vezes vem matar o tédio da aposentadoria, ou o tempo que sobra depois de os filhos crescerem e vão estudar,  fazer a primeira ou mais uma faculdade. Às vezes vem acompanhar os filhos no mesmo curso. Mas há alunos que vem fazer jovens que vem fazer uma segunda faculdade, pois há grande complementaridade entre direito e economia, ou administração e economia e assim por diante. Mas o melhor para mim é que todos estes alunos vêm estudar em uma universidade pública. Embora nossa faculdade não tenha pessoal e recursos de uma grande faculdade pública em São Paulo ou Rio, possui uma equipe de professores bastante trabalhadora, apesar de suas cisões e portanto de sua difícil política interna. mas nenhum professor é, como nas faculdades privadas, horista, os salários são melhores que nas últimas e se facilita de várias formas a titulaçõa dos professores, que assim partem por longos períodos para fazer mestrado ou doutorado muitas vezes no exterior. Temos assim um bom time com boas condições de trabalho, apesar de muitas deficiências ligadas à questão social brasileira, que cai com força em cima da escola do ensino fundamental até a pós-graduação. Os alunos entretanto podem fazer um bom curso, o melhor do Paraná, eu creio, que usa pontuação do Enem parcialmente em seu vestibular, aderiu ao Reuni que é uma boa idéia para aumentar o número de vagas na escola pública e chegou a usar mecanismos de cotas para negros e para alunos vindos do ensino público  no ensino médio. Isso é importante, porque embora tenha deficiências, é possível defender com boas razões o sistema de cotas para diminuir um pouco a enorme heterogeneidade que se observa no ensino superior, e transformá-lo num espelho mais fiel da sociedade que temos ou somos. Muito importante é destacar que o aluno sai dali com chance de perceber diversas formas de estudar e aprender economia, que é uma matéria tão sujeita a crivos científicos e ideológicos que a jornalista canadense Naomi Klein, buscando uma definição, optou por esta: ”economia é o quer os economistas fazem”. Há pessoas que se voltam mais para a política macroeconômica, outros preferem estudar a vida das empresas, ou a metodologia econômica, ou o pensamento marxista ou institucionalista, e assim por diante, o que torna a faculdade bastante atraente, pelo mais que os rígidos escolões que em geral são as faculdades privadas. Não há na UFPR a idéia de que a escola deve preparar para o mercado de trabalho tout court  , mas para a  vida e a cidadania. As cisões são penosas, mas o fato de termos um ambiente sem patrões, exceto o Ministério da Educação, cria um bom espaço para divergências, convergências e discussões sobre consensos mínimos.  O maior problema que eu vejo é muitos alunos se destacarem no curso para, diante do precário mercado de trabalho brasileiro, tornar-se caixa no BB, embora muitos sigam boas carreiras universitárias ou se destaquem em boas empresas. O professor Adilson Antonio Volpi está preparando um projeto de empreendedorismo dentro do núcleo que estuda a vida de empresas, dirigido pelo professor Armando João Dallacosta, que procura fazer com que os alunos enxerguem outras opções no mercado para uma vida profissional gratificante. Esta iniciativa pode ser seguida por muitas outras, como a que também existe no nosso departamento, de estudar e participar do chamado Terceiro Setor. Muitos alunos montam cooperativas interessantes e democráticas por princípio, ou projetos para populações pobres na Incubora de Projetos da UFPR voltada para a economia solidária, ou ainda projetosd semelhantes para populações pobres afetadas pelas transformações no ambiente marinho ou florestal. Enfim, isso tudo me parece ais promissor que as opções de escolas como a PUCC ou a FAE de serem escolas de negócios,  pretendendo formar alunos diretamente para as necessidades de grandes empresas. É melhor formar bons alunos com uma sólida formação geral. Ainda estamos longe disto, mas o objetivo é este, pois um aluno assim determina melhor sua vida e não se torna objeto das políticas internas das grandes empresas.  É difícil ser estudante, o período da profissionalização assusta a muitos, mas penso que a política universitária pode ajudar os jovens a descobrir um grau de liberdade mais adequado a nossa sociedade e aos interesses dos alunos, que em grande parte são criados pela visão que a escola passa.

                                                                                                          Igor

Nenhum comentário:

Postar um comentário