segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Memória


Memória
pedi a meu pai várias vezes que escrevesse sua biografia. faltam biógrafos no Brasil, como o maravilhoso Pedro Nava. sei vagamente da história de meu pai. meus avos paternos morreram de gripe na dácada de trinta e cedo meu pai foi atirado à vida. não sei se tinha tios, apenas irmãos dos quais aos poucos se distanciou. papai se criou só, foi um self- made man o que moldou sua ideologia individualista e intrometida em tudo, dissesse ou não respeito a ele. mas ele teve uma boa história, sei pouco dela. ele não tinha muito tempo para conversar com a gente, acho. de mamãe sei menos ainda, embora tenha convivido com meus avos maternos e tios, primos e primas por esse lado da família. de mamãe sei mais, mas não o que viveu ou sentiu, percebi muito, mas ela podia ter conversado mais também. hoje o esquecimento paira sobre nós, tudo corre muito veloz, e quando alguém morre leva preciosidades em seus olhos, que nós hoje desprezamos ou descartamos, como uma eletrola Phillips de madeira marfim tocando Cauby em 78 rpm.  ou o langor de Maysa altas horas na tevê preto e branco, cantando para eu e mamãe apenas, na sala. assim vamos nos distanciando das emoções antigas, vamos nos distanciando mesmo das nossas, ficamos anacrônicos rapidinho. e a memória fica relegada aos historiadores, que nos olham com suas próprias preocupações.
                                                             Igor

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